Dr. Marcos Cherem, o entrevistado do Jornal de Lavras
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Um assunto que durante a semana passada ganhou destaque nas conversas foram às mortes prematuras de dois atletas jogadores de futebol: Júnior Camilo Mesquita, de 27 anos, que morreu no dia 18, quando jogava futebol no Lavras Tênis Clube (LTC) e Leonildo Almeida, de 33 anos, também quando participava de uma partida de futebol numa quadra no bairro Jardim das Acácias no dia 20.
As duas mortes, evidentemente comoveram os lavrenses e muitas especulações surgiram, como uso de suplementos, exigir demais do corpo e o mais alarmante de todas as narrativas: efeitos colaterais da vacina contra Covid-19.
O Jornal de Lavras foi buscar uma resposta para isso e procurou o médico cardiologista Dr. Marcos Cherem, que tem 34 anos de formado, com título de especialista em cardiologia pelo Conselho Federal de Medicina e pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, sendo ainda associado internacional do American College of Cardiology, atuando no Hospital Vaz Monteiro.
Jornal de Lavras: Quais as principais causas de morte súbita em jovens que aparentemente não tinham nada?
Dr. Marcos Cherem: A morte súbita em jovens durante a prática esportiva, embora rara, geralmente está associada a condições cardíacas que muitas vezes não eram conhecidas pelo fato de terem uma evolução silenciosa e porque a maioria dos jovens que praticam esportes não tem, no Brasil, o hábito ou a condição sócio econômica de passarem por uma avaliação médica para avaliação preventiva.
Jornal de Lavras: Quais seriam os motivos principais desse tipo de evento trágico?
Dr. Marcos Cherem: Como exemplos posso citar cardiopatias genéticas, como Cardiomiopatia Hipertrófica, transmitida hereditariamente, que leva ao espessamento anormal do músculo cardíaco, dificultando o bombeamento do sangue na saída do ventrículo esquerdo para a aorta; Displasia Arritmogênica do Ventrículo Direito, em que parte do músculo cardíaco (miocárdio) é substituído por gordura e tecido cicatricial, permitindo arritmias fatais; Síndrome de Brugada, uma alteração no coração que leva a arritmias ventriculares graves; Síndrome do QT longo, outra anomalia na condução elétrica cardíaca, levando a arritmias fatais; também alterações congênitas da emergência das artérias coronárias, levando a uma obstrução súbita durante esforços, induzindo a um infarto potencialmente fatal; Síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW) em que a existência de uma via elétrica anômala no coração, permite arritmias aceleradas e fatais; Miocardites, que são inflamações do músculo cardíaco, geralmente causada por infecções virais, como por exemplo a covid, que podem levar a arritmias complexas. Todas incomuns, mas potencialmente fatais.
Jornal de Lavras: Além disso, mais alguma causa?
Dr. Marcos Cherem: Sim, mesmo pessoas sem cardiopatias, podem sofrer com o uma situação conhecida como "Commotio Cordis": nesse caso um impacto forte e direto no peito, geralmente do meio para a esquerda, como uma bolada, cabeçada ou um chute pode desencadear uma arritmia fatal.
Jornal de Lavras: E o uso de suplementos, muito comum hoje em dia, traz riscos?
Dr. Marcos Cherem: Suplementos nutritivos desde que não haja contraindicação costumam ser benéficos.
Jornal de Lavras: E o uso de drogas?
Dr. Marcos Cherem: Substâncias como esteroides anabolizantes, drogas estimulantes (como cocaína, crack e anfetaminas), álcool em altas doses, podem aumentar o risco de arritmias cardíacas.
Jornal de Lavras: O que é recomendado para evitar essas tragédias?
Dr. Marcos Cherem: Na maior parte das vezes essas condições podem ser identificadas através de uma consulta médica, seja clínica ou cardiológica, assim como por exames como eletrocardiograma (ECG), ecodopplercardiograma, teste ergométrico e quando necessários, ressonância magnética e testes genéticos. O rastreamento médico, pelo menos com uma consulta e no mínimo um ECG em atletas jovens é essencial para diagnostico precoce e prevenção dessas situações que trazem um sofrimento imenso aos familiares e amigos daqueles que foram acometidos por esses quadros. Além disso, sempre bom lembrar que a nutrição e hidratação adequadas são essenciais para qualquer prática esportiva.
Jornal de Lavras: Finalizando: vacinas causam morte súbita? Essas mortes podem ter sido efeitos colaterais de vacina, contra a Covid, por exemplo?
Dr. Marcos Cherem: Desconheço sequer um trabalho médico de respeito, com significância estatística, demonstrando associação de morte súbita e vacinação. Vacinas salvam vidas há décadas, evitando doenças como varíola, sarampo, poliomielite, tuberculose, gripe e mais recentemente da covid.
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