Foto e informações: Ufla
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Os rios e córregos que abastecem as cidades enfrentam diariamente desafios relacionados ao descarte inadequado de esgoto doméstico. Estações de Tratamento de Efluentes (ETEs) procuram remover as impurezas e poluentes desse esgoto antes de lançá-los novamente nos rios; entretanto, esse tratamento pode não ser eficaz. É o que demonstra um estudo recente sobre a ETE do município de Lavras, realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada da Universidade Federal de Lavras (Ufla), como parte de uma investigação realizada pela Delegacia de Meio Ambiente da Polícia Civil a pedido do Ministério Público Federal.
Os resultados foram divulgados pela Ufla nesta quinta-feira, dia 5. A qualidade do esgoto doméstico, também conhecido como efluente, foi analisada em junho de 2023, em quatro pontos: antes de chegar à estação de tratamento, na montante ou direção contrária ao fluxo natural da água (P1) e na jusante ou sentido da correnteza (P2); na entrada da estação (P3) e na saída (P4), após o tratamento.
Foram feitas diversas análises físico-químicas para medir a presença de substâncias poluentes como surfactantes (usados em detergentes), coliformes fecais (como a bactéria Escherichia coli) e nitrogênio amoniacal, além da concentração de oxigênio dissolvido na água, importante para a presença de vida aquática. Também foram realizados testes em plantas, sementes e pequenos organismos para avaliar os impactos dessas substâncias no meio ambiente.
Os resultados revelaram problemas em praticamente todos os pontos estudados. Mesmo após o processo de tratamento, a água liberada pela estação (P4) ainda apresentava níveis elevados de componentes que podem prejudicar o ambiente, como a alta demanda de oxigênio e o excesso de matéria orgânica, que podem causar a morte de peixes e outros organismos aquáticos.
Os testes com sementes de plantas mostraram que o esgoto tratado não conseguiu eliminar completamente os poluentes. Embora alguns tipos de plantas tenham mostrado crescimento acelerado devido ao excesso de nutrientes como fósforo e nitrogênio, outras apresentaram inibição no desenvolvimento, possivelmente devido à presença de substâncias tóxicas, como detergentes e pH elevado.
Por sua vez, as amostras de esgoto bruto (P3) causaram a morte do microcrustáceo Artemia salina, indicando a presença de compostos tóxicos. O microcrustáceo é uma espécie de ambientes aquáticos salinos comumente utilizada em pesquisas laboratoriais, por permitir a identificação de alterações sutis na qualidade do ambiente. Portanto, estudos com o A. salina são capazes de revelar o impacto de substâncias tóxicas em organismos representativos de ecossistemas aquáticos.
O estudo também avaliou o efeito do esgoto no DNA das plantas, usando cebolas como modelo. Foi observado que, mesmo após o tratamento, a água da estação ainda provocava alterações genéticas nas células da cebola, o que pode ser um sinal de que esses resíduos têm potencial para causar mutações e outros problemas graves no ambiente, e possivelmente na saúde humana.
"Esses resultados reforçam a importância de aprimorar os processos de tratamento de esgoto para garantir que a água devolvida aos rios esteja realmente limpa e segura. Além disso, estudos como este são fundamentais para monitorar continuamente a eficiência das estações de tratamento e identificar falhas que possam comprometer a qualidade dos efluentes liberados no ambiente. Somente com um monitoramento rigoroso e melhorias constantes nos tratamentos será possível evitar danos ambientais e proteger tanto a biodiversidade dos corpos d'água quanto a saúde das populações que dependem desses recursos naturais", afirma a docente do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada Larissa Vieira.
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