Imagem captada do Google Street Views

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História de Lavras - por Eduardo Cicarelli: A cidade de Lavras acaba de perder um de seus estabelecimentos mais tradicionais: o Foto Wildes, loja localizada na rua Sant'Anna, encerrou suas atividades neste último final de semana. O fechamento do lendário estúdio é um reflexo direto do avanço implacável da tecnologia digital, que transformou a arte e o negócio da fotografia.

O empresário Wildes Botelho foi uma figura central na evolução da fotografia em Lavras. Ele era conhecido por sua busca constante por inovação. Antes de sua iniciativa, a revelação de fotos coloridas era um processo demorado: os filmes eram entregues aos estúdios e os clientes precisavam esperar uma ou até duas semanas, já que o processo era realizado majoritariamente em Belo Horizonte.

Essa espera terminou em 15 de abril de 1993. Nesta data, o Foto Wildes inaugurou o primeiro laboratório de revelação rápida de filmes coloridos da região, uma revolução que tornou a fotografia acessível e instantânea para a comunidade local.

A fotografia, uma das invenções mais importantes da humanidade, é o meio que nos permite eternizar acontecimentos e foi o precursor de outras mídias essenciais, como o cinema e a televisão. Em Lavras, essa arte registra momentos cruciais há mais de um século.

A fotografia chegou oficialmente à cidade de Lavras há 129 anos, em 3 de março de 1896. Nesta data, o fotógrafo Mr. J. Riley, agente da Casa Pratt, Cochrane e Cia. do Rio de Janeiro, se hospedou no Hotel Moreira. Ele veio a Lavras para fotografar pontos da cidade e retratar famílias abastadas. A partir de sua visita, o interesse pela fotografia se popularizou.

Registros fotográficos de Lavras foram além dos retratos de família, documentando feitos históricos. 1915, A Cirurgia Histórica: Em 13 de julho de 1915, a Santa Casa de Misericórdia foi palco de uma das cirurgias mais importantes da época. Os médicos extirparam um fibroma de 40 quilos do corpo de uma mulher, que sobreviveu. O procedimento inédito foi documentado pelo fotógrafo Antônio Costa Júnior, e as fotos podem ser vistas nos arquivos do Museu Bi Moreira, provando o papel da fotografia como documento científico.

A cidade também se tornou notícia mundial graças à fotografia em dois momentos distintos e notáveis. A Primeira foto do Sputnik 1: Em 9 de outubro de 1957, a comunidade científica internacional foi surpreendida. O Dr. John Stout, engenheiro químico industrial e professor do Instituto Gammon e da antiga ESAL (hoje Ufla), fotografou em Lavras, às 19h34, a passagem do "Sputnik 1" (satélite da URSS). Essa foi a primeira fotografia em órbita do satélite soviético feita no mundo. O feito deu notoriedade ao Dr. Stout, que posteriormente integrou a NASA e foi um dos responsáveis pelo envio do homem à Lua e pela criação da Internet, em sua fase militar.

O Caso OVNI: Na noite de 1º de junho de 1969, um Objeto Voador Não Identificado (OVNI) sobrevoou o céu de Lavras. Centenas de pessoas observaram o fenômeno, que foi fotografado da varanda de uma casa na rua Afonso Pena pelo médico Rêmulo Tourino Furtini. O suposto disco voador teria até pousado brevemente em um pasto onde é hoje o Bairro Centenário, sendo testemunhado por atiradores do Tiro de Guerra. As fotos e os depoimentos foram alvo de extensas matérias em jornais e revistas do Brasil e do mundo, projetando Lavras para o campo da ufologia.

Reconhecendo o poder da fotografia na preservação histórica, a Prefeitura de Lavras possui uma galeria de ex-prefeitos. Em 18 de março de 1992, o ex-prefeito João Batista Soares da Silva presidiu uma solenidade de entronização de diversas fotografias resgatadas, um esforço que garantiu o registro visual de figuras como José Jorge da Silva, Pedro Xavier de Moura e Delphino de Souza, entre outros, preservando a memória política da cidade.

Hoje, a fotografia está nas mãos de todos. Graças à tecnologia dos equipamentos como câmeras digitais e smartphones, tirar uma foto instantânea e de alta qualidade não é mais um artigo de luxo. Aplicativos como WhatsApp permitem que um flagrante feito em Lavras seja visualizado em qualquer parte do mundo em questão de minutos.

Ao tirar seu celular do bolso para registrar um momento, lembre-se: há pouco mais de um século, fazer uma única fotografia era uma conquista rara e cara. O encerramento do Foto Wildes da rua Sant'Anna marca o fim de um capítulo, mas o legado de pioneirismo de Wildes Botelho e a importância da fotografia como registro da vida lavrense permanecem eternos.