José Luiz de Mesquita, a referência negra em Lavras e região. Herma do professor na praça João Oscar de Pádua. Foto de arquivo do Jornal de Lavras
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História de Lavras - por Eduardo Cicarelli
Hoje, dia 20 de novembro, é o Dia da Consciência Negra. Em Lavras, o mês é celebrado com diversas atividades, como a lavagem da escadaria do Cruzeiro, que será realizada no domingo, dia 24, seguida de um cortejo até a Capela dos Santos Pretos, onde haverá roda de samba.
Teve show na Casa da Cultura, exposição, palestras e muitas atividades para celebrar a cultura negra. Porém, a maior expressão negra em Lavras e talvez no Sul de Minas é sempre esquecida, trata-se do professor José Luiz de Mesquita.
No início do século passado surgiram líderes negros como o professor José Luiz de Mesquita, que juntamente com Bernardo de Oliveira Dias, fundaram o jornal "O Operário", em 6 de junho de 1909, vinte e um anos após o fim da escravidão.
No ano seguinte, José Luiz de Mesquita e os músicos Reynaldo Cândido de Oliveira, Paschoal e Joaquim Laurinda, fundaram a "Euterpe Operária", que sobrevive até os nossos dias.
Ainda em 1910, José Luiz instalou a "Escola Noturna Estadual", que durante 44 anos esteve sob o seu controle, alfabetizando 5.250 pessoas adultas; somente deixou de alfabetizar em 7 de janeiro de 1953, quando se aposentou.
O espírito dinâmico e empreendedor do professor José Luiz de Mesquita, fez com que ele e o inesquecível José Ancelmo Costa, mais conhecido por Zé da Lina, um dos homens mais polidos que o povo de Lavras conheceu, participassem juntamente com outros, da fundação do "Moreno Sport Club", em 1920.
Alguns anos mais tarde, em 1938, ambos participaram também da fundação do Crisântemo Clube, que sobreviveu até a década de 80. Fez parte do Congresso dos Operários de Juiz de Fora, na condição de palestrista.
Fundou na cidade de Paraguaçu, próximo a Alfenas, a Sociedade Operária; realizou diversas conferências em Varginha, Machado, Campo Belo, Campinas, São João del-Rei, Campanha e outras localidades.
O professor José Luiz de Mesquita foi um dos fundadores da União de Moços Católicos e também da Conferência de São Vicente de Paulo em Lavras, tendo sido diretor por muitos anos.
Como professor e primeiro líder operário de Lavras, manteve correspondência com diversos intelectuais brasileiros, como: Rui Barbosa, Affonso Guimarães, D. João Neri, Paulo Teixeira, Severiano de Resende, Dr. Ribeiro da Silva, João de Minas, Belmiro Braga, o qual conheceu pessoalmente, e tantos outros.
Durante toda sua vida ligada à educação, recusou diversos cargos dos governantes mineiros, como Antônio Carlos e Olegário Maciel, para ocupar posição de destaque na área educacional.
José Luiz de Mesquita, além de fundador do jornal "O Operário", trabalhou em vários órgãos de imprensa do Brasil e do exterior. Escreveu para "O Operário de Lisboa", em Portugal, para "O Getulinho", de Campinas, "O Verbo", de Nepomuceno, "A Abelha", de Pouso Alegre, e muitos outros jornais, sempre expondo suas ideias e suas críticas saudáveis, porém, sempre em defesa das minorias.
Outra herança deixada por ele foi o tombamento no Patrimônio Histórico Nacional da Igreja do Rosário: foi ele quem deu entrada ao processo de tombamento da mais antiga obra arquitetônica de Lavras, em 1948, e o processo de número 368-T, sob a inscrição 316, no livro das Belas Artes, folha 67 foi deferido em 2 de setembro.
José Luiz de Mesquita, a expressão máxima negra em Lavras, morreu pobre em 16 de junho de 1967, deixando um legado de mais de cinco mil alfabetizados. Em sua homenagem, uma via pública da cidade e uma escola receberam o seu respeitado nome.
Em 22 de julho de 1988, o então prefeito Célio de Oliveira inaugurou a herma do ilustre educador ao lado da Igreja que tanto amou e defendeu.
Que no próximo ano, de 2025, o ilustre professor seja lembrado pelas autoridades e por aqueles que querem valorizar a contribuição dos negros em Lavras. Fica a sugestão: por que não criar a Comenda Professor José Luiz de Mesquita, para condecorar todos aqueles que fizeram e fazem para a cultura, para o esporte, para a política e outros?
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