Área central de Belo Horizonte, no início do século XX, época em que Francisco Salles foi eleito presidente do Estado de Minas Gerais (antiga denominação do cargo de Governador)
Ontem, domingo, dia 29, e nesta segunda-feira, dia 30, são duas datas importantes para a política de Minas Gerais e, sobretudo de Lavras, pois há 97 anos assumia a cadeira de Senador da República o lavrense Francisco Antônio de Salles, na vaga deixada por ocasião do falecimento do senador Feliciano Penna. A posse foi realizada na capital da República, o Rio de Janeiro, no dia 30 de janeiro de 1915.
Ontem, dia 29, fez 149 anos que Francisco Salles nasceu numa fazenda, que hoje está no perímetro urbano da cidade e o casarão existe até hoje: a sede da fazenda do Madeira.
Poucos lavrenses sabem sobre a vida e a obra Francisco Salles, político de Lavras que mais se destacou no cenário político da República e do Estado de Minas. Francisco Salles nasceu em Lavras em 29 de janeiro de 1863, iniciou seus estudos aqui mesmo, sob a orientação do professor e padre Américo Brasileiro. Mais tarde, seguiu para o Seminário de Mariana e posteriormente para Ouro Preto, em 1881.
Em 1882 matriculou-se na Escola de Direito do Largo de São Francisco, uma das mais tradicionais do país, bacharelando-se em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1886.
Republicano convicto desde os tempos de faculdade foi propagandista desses ideais em pleno regime monárquico, foi sócio fundador e vice-presidente do "Club Republicano Mineiro", juntamente com outros mineiros que comungavam os mesmos ideais e que residiam em São Paulo.
Tão logo formou, voltou a Lavras e se estabeleceu com seu escritório de advocacia e, em 1888, casou-se com Anna Adalgisa de Aquino Salles. Contudo, seu espírito de civismo e dedicação à causa republicana, entregou-se a política, fazendo conferências e fundando clubes políticos, pregando suas idéias republicanas por todo Sul de Minas.
Vendo sua causa vitoriosa a 15 de novembro de 1889, candidatou-se a deputado à Constituinte Mineira, que promulgou em 15 de julho de 1891, o estatuto básico das instituições do Estado. Desistiu do resto de seu mandato e foi exercer o cargo de juiz municipal e de órfãos na comarca de Lima Duarte.
Por imposição do povo mineiro, exonerou-se e voltou ao cenário político, elegendo-se deputado, onde ocupou a presidência da Câmara Estadual. Sobressaiu-se entre os demais graças ao posicionamento moderado no meio da luta travada entre elementos de facções partidárias diversas; promoveu acordos entre os estados de Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro para a cobrança do imposto sobre o café exportado pelo porto do Rio.
Findado seu mandato foi nomeado em 7 de setembro de 1894 secretário das Finanças do governo de Crispim Jacques Bias Fortes, tendo em 1897 se transferido juntamente com o Governo para a nova capital do Estado: Belo Horizonte, inaugurada em 12 de dezembro daquele ano.
Com a renúncia de Francisco Sá, secretário de Viação e Obras Públicas, por ter sido eleito deputado federal, Francisco Antônio de Salles exerceu a pasta vaga, até o final do governo de Bias Fortes. Em 19 de setembro de 1896, criou através do decreto de número 200, a Caixa Econômica de Estado de Minas Gerais.
Em 1898, convidado por Silviano Brandão, Francisco Antônio de Salles torna-se prefeito de Belo Horizonte, cuja função desempenhou com integridade e extrema competência, características que marcaram sua passagem pela política.
Mesmo ocupando o cargo de prefeito da capital mineira, Francisco Salles foi eleito Senador Estadual e deputado federal; optando então pela cadeira da Câmara Federal, onde fez parte da Comissão de Reconhecimento de Poderes, ocupando também a liderança da bancada mineira.
Em 1º de março de 1902, o lavrense Francisco Antônio de Salles foi eleito presidente do Estado de Minas Gerais (antiga denominação do cargo de governador), assumindo o poder, perante o Congresso Mineiro em 7 de setembro do mesmo ano.
Francisco Antônio de Salles teve sua trajetória política marcada por sua atuação na área econômica. Desde quando assumiu a Secretaria das Finanças no governo de Silviano Brandão, destacou-se pela sistematização e organização de arrecadação do Estado e imprimiu maior rigor à elaboração do orçamento.
Organizou o 1º Congresso Agrícola, Comercial e Industrial de Minas Gerais, o que impulsionou sobremaneira a economia do Estado.
Sua notável permanência no Palácio da Liberdade, fez com que forças políticas do país o indicasse a Presidência da República, convite este que declinou e indicou o nome de Afonso Pena, que exerceu a alta magistratura por um período, já que falecera antes de completar o seu mandato.
O marechal Hermes da Fonseca, quando presidente da República de 1910 a 1914, convidou Francisco Antônio de Salles para ocupar a pasta do Ministério da Fazenda, cargo este que exerceu até 1912, quando se exonerou para ocupar o Senado e a Câmara Federal.
Em 1918, com a eleição de Artur Bernardes para o governo de Minas, Francisco Salles afastou-se das atividades políticas, dedicando a imprensa em Belo Horizonte, quando fundou o jornal "Diário de Notícias."
Algumas conquistas lavrenses ligadas ao nome de Francisco Antônio de Salles durante sua passagem pela vida pública: instalação do Fórum; construção da ponte metálica no lugar denominado "Funil"; construção do Grupo Escolar "Firmino Costa"; ligação ferroviária entre Lavras e Barra Mansa; equiparação da Escola Normal; construção das oficinas da Estrada de Ferro Oeste de Minas; construção da ponte "Agostinho Porto"; implantação dos bondes e outros benefícios.
Na década de 1910, abandonou a carreira política para se dedicar a atividades empresariais nos ramos da agricultura e indústria. Faleceu aos 69 anos no dia 16 de janeiro de 1933, no Rio de Janeiro.